segunda-feira, 25 de abril de 2011

O homem que NÃO sabia javanês

O muezim chama os fiéis a uma das cinco preces diárias. Na Indonésia, país composto de 17.000 ilhas e maioria muçulmana, Mairon senta ao laptop para partilhar sua segunda aventura na Ásia.



Seguindo o estilo de Vicky, Cristina, Barcelona e do sucesso "Are Baba, Mairon na Índia", aqui estou para a continuação Mairon, Java, Sumatra. São seis semanas cá nesta parte do mundo para o terceiro estudo de caso do meu doutorado; então, por que não, fazer mais um relato de experiências, cá neste país de cultura interessante.

Cheguei aqui eram oito horas da manhã depois de 16h dentro do avião. Já estava perdido em termos de horário. Isso foi ontem. Jubi foi me buscar no aeroporto, ela que será minha tradutora de trabalho aqui. Moça muçulmana, de véu de Jade e tudo. Parece ter seus 25 anos, mas asiática a gente nunca sabe, então se bobear ela já passou dos 30 há muito tempo. Moça espirituosa. Foi logo me perguntando: "Aqui de vez em quando tem terremoto, tsunami e explosão de bomba, você não ficou com medo de vir pra cá não? Ah! O Vulcão Merapi também fica aqui perto".

O povo aqui na Indonésia se parece com os índios do Brasil. Morenos e com um pouco de olho puxado, mas não muito. Cabelo preto liso, e não são muito altos. São muito religiosos, em geral. No avião da companhia Garuda, em que voei, na revista de bordo em meio a propagandas, anúncios "Torne-se um cliente Gold" e coisas do tipo, uma seção "Invocações". Eu achei que havia aberto algum livro de magias por engano. Lá havia preces em cinco religiões sobre como orar para tomar conta da tripulação, do avião etc.

Com Jubi e Pá Rudi (o motorista) viemos de carro do aeroporto de Jacarta (a capital) até Bogor, uma cidade do interior conhecida como "A Cidade da Chuva". Saí de Amsterdã pra outra cidade chorona. Basicamente chove todo dia durante várias horas. Ê beleza. Temperaturas parecendo as de Feira em dezembro, e muita umidade.

Em compensação, nunca paguei acomodação tão barata na minha vida - pouco mais de 5 reais a noite. As instalações são bonitinhas, pra dizer a verdade, e o quarto é arrumadinho. O banheiro é que por aqui, como sempre, pega.



Vejam que não tem vaso. É basicamente um buraco no chão como se você estivesse sentado no meio fio. Ou faz de pé e se cuida pra não sujar o calcanhar. Obviamente não tem descarga. E também não tem papel. É na base da aguinha na cuia e a mão. Eu, precavido após a Índia, trouxe um rolo lá de Amsterdã. Dizem que aqui dá pra achar pra comprar, e é bom que dê mesmo, senão vou ter que apelar pra folha de caderno, de bananeira... (Não pretendo usar a aguinha a não ser como último recurso). Então é contagem regressiva pra ver o quanto meu rolo dura...

Também não tem chuveiro. O banho é de gato, com a mesma cuia utilizada para o serviço acima referido (olha que beleza?). Não entendo porque é que não fizeram a torneira mais pra cima, e eu não me importaria de tomar um banho de bica. Mas não, a torneira é a 50cm do chão, pra encher a cuia d´água. Desta vez não tem nem o banquinho que tinha lá na casa do Seu Bhalla, então aqui você fica acocorado, de joelhos ou - se não tiver juízo - sentado no chão.

(A pia, pra quem notou, não tem ralo, então basicamente é um tanque d'água. Escovar os dentes, bochechar, cuspir e coisa do tipo, você - e todo mundo - usa a pia da cozinha).

Felizmente não é dessa cozinha que vem a comida que eu como (se bem que, pensando agora, não deve ser tão diferente nas outras cozinhas... mas esquece, afasta esses pensamentos ruins). A comida é muito boa. À base de arroz, em sua maioria. Fui logo experimentar.

Chegando aqui no alojamento Jubi me apresentou ao caseiro, Pantchasma. Sujeito baixinho, risonho, e que fuma uma cigarrilha que só Deus sabe o que é. Ele logo se ofereceu pra me mostrar onde comer aqui perto. Não podia faltar aquela rodada básica de moto sem capacete no trânsito asiático, né? Pois é, lá fui eu e o Motoqueiro Pantchasma.

A comida é sempre arroz com alguma coisa. Esse "alguma coisa" normalmente vem salpicado de pimenta malagueta em pedaços, pra dar sabor. Inclui: folha de mandioca no caldo; galinha\peixe\tofu ou legumes em molhos de leite de côco maravilhosos; tempeh, que é tipo um tofu só que feito com os grãos de soja inteiros e prensados, é uma delícia e pega o sabor do molho; entre um zilhão de outras coisas que ainda não experimentei. Normalmente tem uma super panela de arroz, e aí você pega dos acompanhamentos.

(Se está achando os nomes indonésios engraçados, espere até saber que pintu é porta e bunda é mãe. É sério).

Dando início aos trabalhos, hoje fui me encontrar com Fahmuddin (que minha mãe já apelidou de Fernandinho), o pesquisador aqui que está me ajudando a acertar as entrevistas. Duas semanas em Java, duas na Sumatra, e outras duas aqui em Java novamente. Muita coisa pra rolar e pra descobrir, e vou partilhar aqui com vocês.

7 comentários:

  1. Será que só eu pensei em "Aiacos" quando li "Garuda"?

    Espero por mais aventuras do Mairon no cu do mundo, com o Paul na mão! Boa sorte, Mairon! \o/

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  2. Escritório de Advocacia, 9:28 da manhã.
    E eis que uma garota morena morre de rir ao ler que Bunda é mãe e faz 5 juristas olharem curiosas para ela.
    Se vc pensou em mim ficando roxa e pedindo desculpa, acertou.
    Como sempre adoro seus blogs de viagem. Espero ter o prazer de ler coisas tão doidas quanto li de vc na Índia...
    Mas vem cá: se na Índia era Arebaba, aí é o que??
    Beijocas!

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  3. Vc viajou no "garuda móvel" de lost canvas! heheh
    boa sorte nessa outra parte do mundo.
    abraços

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  4. O Motoqueiro Pantchasma!!
    Sem contar...
    Já pensei em, pelo menos, uma dezena de frases envolvendo porta e mãe... XD

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  5. Opa!!! Diversão garantida pelas próximas 6 semanas!
    Beijos e sucesso aí nessa empreitada, coligado.

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  6. huaheuaheuhae, o motoqueiro pantchasma heuheuheaehauheuahe
    Você sai de Feira pra ir pra outro inferno Mairon, po.

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  7. Como sempre, meu querido, suas narrações nos deixam mais próximos a culturas tão diferentes da nossa. Curta bastante sua estada nesse continente tão famoso para o estudo da História Ocidental.

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