Paradeiro atual. Jambi fica mais ou menos ali onde está o ponto branco mesmo. Interiorzão da ilha. |
Os muçulmanos têm de rezar 5 vezes ao dia, e com hora mais ou menos marcada: (1) Ao levantar do sol, (2) ao meio-dia, (3) no meio da tarde, (4) ao pôr do sol, e (5) à noite antes de ir dormir. Há variações quanto ao horário, dependendo do país. Aqui na Indonésia, como o clima é equatorial e a duração dos dias não varia muito ao longo do ano, eles seguem esse esquema aí. Altas vezes quando estou com Jubi num shopping ou algo assim, "Peraê que agora eu tenho que rezar". Todos os prédios públicos aqui tem mushollas, que são salinhas de oração com tapetes etc. Em casa ou no trabalho, normalmente todo mundo tem o seu tapete que estende no chão em direção a Mecca (assisto às rezas de Pá Harry todos os dias lá em Bogor). Mas é uma oração silenciosa, de uns 10-15 min. Ajoelha, encosta a testa no chão e tal, como na novela.
O que eu não previ é como isso ia interferir na minha rotina. Não tente marcar nada pra sexta-feira final de manhã, pois é o dia das orações principais para os homens. Então às sextas de manhã eu só marco entrevista com mulher. Outra coisa é o horário do café da manhã. Estávamos eu e Jubi procurando hotel:
- Mairon, a recepcionista está dizendo que o quarto tem televisão e ar condicionado. E eles servem o café da manhã no quarto, incluso no preço.
- Parece legal.
- Entre 5:30 e 6:00 eles batem na sua porta pra entregar.
- (!!!!) O quê?! Não, diga a ela que minha reza é flexível no horário, e que ela pode pular a porta do meu quarto.
- Kkkkkkk. Mas e aí, vamos ficar com esse então?
- Não, quero saber mais uma coisa. Pergunta a ela se tem chuveiro.
*Jubi pergunta*
- Ela disse que não. Só no preço "Suíte" é que tem uma banheira, mas também sem chuveiro.
Fomos ver o quarto, um cheiro de mofo, e o banheiro dava tristeza. Fomos procurar outro hotel.
Este aqui - em que finalmente nos instalamos - não é mau. Um pouco mais caro mas aqui nada é muito caro. Tem chuveiro e, de quebra, internet. E aqui eles só me acordam às 6:20 pra o café na porta (um engana-estômago). Me divirto horrores imaginando como cada um de vocês reagiria, haha.
O hotel também é animado. Dois casamentos rolando aqui hoje. Não vi cerimônia nenhuma, só a festa. Mas esses são sino-indonésions (minoria de ancestralidade chinesa e que, em geral, não é muçulmana). Portanto, o único ritual que vi foi o karokê com a meninada desafinando. Dois carros enfeitados esperam na porta, onde também há painéis com os nomes dos casados escritos em flores artificiais produzidos pela "Honesty Florist".
A Sumatra abriga a maior flor do mundo - a Rafflesia arnoldii (haha, não, não é referência ao Schwarzenegger), de até 11kg e 1m de diâmetro. Se fosse na Holanda, isso teria todo um empreendimento, além de empresas floristas com flores tropicais, etc. Mas aproveitar recursos da região, incentivar produtores locais e tal, isso não é comum aqui. Hoje procurei sorvete pra aplacar o calor e os únicos sabores que você encontra são: chocolate, baunilha, morango e mirtilho (mais conhecido como blueberry nos países de língua inglesa). Provavelmente a grande maioria dos indonésios nunca viu e nunca nem vai ver um mirtilho. Enquanto isso, as ruas estão cheias de vendedores pobres com graviolas, goiabas, frutas-dragão e outras delícias dos trópicos asiáticos... todos excluídos, frutas e vendedores.
A Rafflesia arnoldii, maior flor do mundo. Nativa da Sumatra e do Borneo. Pensei em ir ver, mas ela só floresce na época de chuvas, depois de novembro. |
Lichia, fruta mais ou menos do tamanho de um limão. Meio acri-doce. Dá pra encontrar importada no Brasil, pelo menos no sudeste. |
A fruta-dragão é maior, do tamanho de uma manga grande. Difícil descrever o sabor, mas é boa. Esse interior é meio mole e suculento, então as pessoas tiram com a colher. Nunca vi no Brasil. |
Pra vocês terem uma idéia de o quanto essa fruta fede, fotografei o aviso aqui do hotel junto das lixeiras. |
A Sumatra é menos desenvolvida que Java, e Jambi tem aquele ar de cidade do interior movida a agronegócio. Não tem muito o que ver ou fazer aqui, então as saídas são mais pra comer algo mesmo. Fui parar em lugares muito glamurosos nestes últimos dias: daqueles com a toalha plástica transparente que gruda no seu ante-braço enquanto com a outra mão você segura o garfo e tenta espantar as moscas. Ou daquelas que a mesa é de alumínio batido a prego na madeira. Essa foi de uma banquinha onde Jubi e eu estávamos comendo bolinhos fritos (de arroz e de tofu, servidos com molho de soja e de pimenta) enquanto eu assistia ao cara enxugar o suor do pescoço com o pano de prato.
Jambi, Sumatra |
Comendo tofu frito na barraquinha de rua. |
Esqueça a floresta equatorial aqui, nesta região ela já quase toda deu lugar a plantações de borracha, eucalipto e palmeira oleaginosa (dendê) - que os ruralistas aí no Brasil estão doido pra espalhar na Amazônia e chamar monocultura de "reflorestamento", engana trouxa. Minha pesquisa tem olhado um pouco essas questões, então tenho passado os dias basicamente visitando gente do governo, ONGs, entre outros. Nosso principal contato aqui é Pá Aswanti, um sujeito meio doido e que lembra o Coringa só que de cavanhaque. Ele é estranho, mas tenho que admitir que está sendo prestativo.
Ontem ele estava me explicando como arroz tem colesterol enquanto eu suava debaixo do ventilador de teto do lugar onde a gente foi almoçar. Os Sumatrenses tem o método muito particular de servir o almoço: eles trazem todos os pratos à sua mesa e você escolhe pegar do que quiser. Há normalmente uns 12 pratinhos com comidas diferentes, incluindo salgadinho de pele de boi frita, cabeça de peixe, e jaca verde cozida no molho. Você vai tirando com a sua própria colher ou com a mão mesmo. Boa parte das pessoas aqui come de mão, então eles lhe trazem uma tigelinha d´água pra você limpar as pontas dos dedos. O que você não comer ou que sobrar, volta pra a panela principal pra ser servido ao próximo cliente (legal, né?). Ao final vem o garçom com o bloquinho e faz a contabilidade do que você comeu ou deixou de comer.
Mas isso aqui ainda não é zona rural meeeeesmo. Este fim de semana, sim, hora de me embrenhar no brejo. Irei ao vilarejo de Muara Jambi pra passar a noite lá e também conversar com agricultores. Estou de saída daqui a pouco. Ontem deu um toró acaba-mundo e a estrada deve estar uma beleza. Depois desta serão Muara Bungo e Tanjung Jabung na semana que vem. Tenho certeza de que as histórias virão.
Cara que bom ver post seu!!!
ResponderExcluirVimos as chuvas ae e até falei: caraca, tomara que o Mairon esteja bem!!!
Mas pelo jeito vc não tá bem não, pq vc emagreceu demais!!! Rapaiz tua mãe não brigou contigo ainda??? Coma direito hehehehehe
Cuide-se aí, hein? Chuvas fortes são esperadas para o decorrer do período...
Beijocas!
Ae Mairon, vou comentar os dois últimos posts de uma vez só. Vai em Komodo? Me traz um dragão XD
ResponderExcluirInglês para parecer chique não é tão diferente daqui, diga-se de passagem...
Pô, ae, ó o seu mole! O torrent que eles baixam pode vir com vírus, pô. O cinema tem que se precaver e o Avira é de grátis...
Quanto ao suorzinho no pano de prato, você nunca se deu conta que baiana não usa sal e o acarajé é salgado? 0=)
Se cuida cara
Para variar um ótimo texto e fotos muito legais para imaginarmos o que nunca vimos. Lembrei do gosto da lichia - doce, doce, doce...
ResponderExcluirO ditado o que não mata engorda é um engodo! Você tá vivendo no limite, em tempo de suas células darem um revertério com a anti-higiente amplamente difundida e mesmo com tudo isso tu nem morreu nem engordou.
Fica com Deus, divirta-se com essas esquisitices deste lado do mundo. Beijão!