sexta-feira, 27 de maio de 2011

No Coração da Sumatra

Eram 6:00h da manhã de domingo quando eu ainda me revirava na cama. Acordei ao som de música - talvez o último tipo de música que eu esperaria ouvir num país muçulmano: canto de música evangélica. Oxente, o que é isso? Pensei que ainda estiva sonhando. O som vinha alto e animado lá do térreo. Eu ainda estava no hotel. Era dia de partir pra o interiorzão brabo e conversar com agricultores.

6:20 religiosamente me bateu na porta o café da manhã. Mas desta vez ele não me acordou. Só que ficou meio desconcertado de me ver sem camisa (eles aqui são meio conservadores na vestimenta, depois eu falo mais disso). Comi o engana-estômago que eles dão e me arrumei pra descer. Chegando lá embaixo, a maior fuzarca com vendinhas de santinhos de Jesus, quadro, e a cantoria mais poderosa do que nunca no salão de convenções do Hotel. Vixe que Edir Macedo baixou aqui. Pois é, a minoria cristã da Indonésia faz a maior festa aos domingos, enquanto que os muçulmanos fazem festa na sexta-feira. (Hoje, por exemplo, eu acordei com o som empolgado da ginástica feminina nos arredores do meu alojamento. Com uma senhora empolgada no microfone e as mamães, de véu, esticando as pernas igual àqueles projetos "Verão saúde" da prefeitura). Em outras partes da Indonésia há maiorias católicas, mas na Sumatra a maioria dos cristãos é protestante.

Ao som da música evangélica, fui tomar café, me encontrar com Jubi e fazer o check-out. Cedo veio o carro nos pegar pra levar à primeira vila que visitaríamos. A estrada até boa, caí na besteira de dizer. Depois parecia a lua. Aquele barro vermelho maravilhoso e cheio de buracos. "São os caminhões das minas de carvão que passam por aqui e fazem isso", me disse o rapaz que dirigia.

Depois que chegamos à área mais de roça mesmo, a paisagem ficou assim.
Me reuni com vários agricultores na primeira vila. Chegamos na casa do Chefe da Vila, com quem tínhamos contato, e lá ele juntou um povão. Só homem, e como (quase) todo homem na Indonésia fuma, estávamos conversando numa nuvem de fumaça. Pelo menos afastava os mosquitos. A dona da casa nos trouxe banana frita, outros quitutes caseiros e - demonstrando certa sofisticação - donuts. (Pra quem não está familiarizado, são aquelas pequenas roscas açucaradas de pão branco com um furo no meio, que se vê muito em filme americano). Veio também o café, carregado de açúcar. Na Sumatra eles põem açúcar é com a colher de sopa. Não estou brincando, vi muita gente fazer isso, principalmente os pobres. Minha comunicação com eles era basicamente na base de gestos e sorriso. Jubi deu conta de toda a conversa. Pra eles eu era o "Mister", como me chamavam. E quando descobriram meu sobrenome, Lima, que em Indonésio quer dizer 5, aí pronto, foi a diversão e eu virei "Mister 5". Daí pra Mairon 5 e pra Maroon 5 é um pulo, né?

Ficamos lá uma noite e, apesar do lugar remoto, tinha até televisão. O menino da casa, Bima, era o que mais assistia (talvez até demais). Nessa de quererem dar à criança a tecnologia que não tiveram, correm o risco de passarem um pouco do ponto. Mas enfim.

Com Bima na vila de Muara Jambi, Sumatra.
As casas dos agricultores quase sempre têm essas varandinhas assim, e você tira o sapato ao entrar. Do lado de dentro, contudo, não há mesas. As refeições são feitas sentado no chão. Foi mesmo quando dali fomos a Muaro Bungo, uma vila mais distante. Pra essa eram 7 horas de viagem num micro-ônibus, e o lugar não pegava nem sinal de celular, e a eletricidade era a gerador por algumas horas apenas.

Tarde na vila de Muaro Bungo, Sumatra. Só faltava o mar.

Pequeno rio em Muaro Bungo, Sumatra. Nesse local estão com um projeto de conservação e utilização dessa corrente pra micro-hidrelétricas, pra que não precisem mais dos geradores a die$el.

Arroz deixado pra secar ao sol em Muaro Bungo, Sumatra.

Por fim, a parada final dessa jornada pelo interior da Sumatra era a terceira vila a visitar, em Tanjung Jabung (legais os nomes, né?). Aí é onde estavam tendo conflitos entre algumas comunidades e umas madeireiras, por disputas de terras. Tava pensando que era só no Brasil? Mas por sorte não me meti nas áreas mais "quentes". Basicamente conversamos com alguns funcionários do governo na região. Meu contato com "madeira" foi mais - pra usar as palavras de Eric - escatológico. No lugar que almoçamos me deparei com um "banheiro" igual àquele do Quem quer ser um milionário?, pra quem viu o filme. Basicamente a localidade era essa aí das fotos abaixo, na beira de um rio. Eu perguntei ao cara onde era o banheiro e ele me apontou pra ir pra o fundo do restaurante. Eu já não sabia mais pra onde caminhar, sem encontrar o tal do banheiro, até que ele me apontou o dito cujo.


A entrada do restaurante.

O restaurante, visto do fundão.


O banheiro do restaurante. Esse aí da cortininha azul.
Entre mortos e feridos, salvaram-se todos. (Por sorte foi n.1, o uso do banheiro). Desde então voltamos aqui a Java e retomei as pesquisas. Voltei ao alojamento onde estava, e agora estou já na reta final da minha estadia. Acumulei algumas coisas a comentar, pois a pesquisa estava puxada, mas agora sobrou um pouco mais de tempo e eu devo tirar o atrasado e viajar também.

Pra começar, hoje à noite vou pegar o trem para Yogyakarta, a capital cultural de Java. Fica a 10 horas daqui, então pegaremos o trem noturno pra chegar amanhã de manhã. Passo o fim de semana e volto. Pra quem se lembra da foto que postei na mensagem final do blog da Índia, aquele templo budista fica lá, e eu devo visitar. Por sinal, essa viagem de trem de hoje deve ser nostálgica: como deixamos pra comprar na última hora, só sobrou a classe povão. Já deram umas risadas da minha cara aqui na sala de Pá Harry, e Jubi (que vai junto) está desesperada. Vamos ver o que nos espera. Mando notícias quando voltar.

Templo de Borobudur, em Java Central.

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